Exposição de Património Português em Banguecoque Tailândia

O património – arquitetónico e artístico – construído pelos portugueses no mundo, vai ser mostrado numa exposição itinerante, na Ásia. Em Banguecoque vai ser inaugurada a 10 de Maio a primeira etapa de um périplo que a levará a Jacarta, no quadro das comemorações de Portugal na Ásia. A exposição coincidirá com o ponto alto da evocação dos 500 anos da chegada dos portugueses ao Sião, atual Tailândia, apoiada pela Missão Comemorações Ásia, Embaixada de Portugal e Instituto Camões.

A exposição The Portuguese Historical Heritage Throughout The World and the Calouste Gulbenkian Foundation, de que é curadora Maria Fernanda Matias, do serviço internacional da FCG, nasceu em 2001, tendo sido mostrada já em Paris (por duas vezes, a última das quais em 2010, na UNESCO), Bilbau, Barcelona e também em Portugal. Alvo de uma reformulação significativa, para atualizar a sua apresentação, a exposição não é sempre mostrada na mesma configuração – como agora acontece para se enquadrar no projeto da Missão Comemorações Ásia –, razão pela qual Maria Fernanda Matias reconhece que podemos falar de uma mostra de «geometria variável».

A exposição é, segundo a responsável do Centro Cultural Português/Instituto Camões (CCP/IC) de Banguecoque, Luísa Dutra, «a primeira iniciativa em que colaboram instituições dos dois países: a Fundação e o IC e, da parte tailandesa, o Fine Arts Department (FAD, organismo dependente do Ministério da Cultura) e o National Museum de Banguecoque», onde será mostrada até 2 de junho.

A colaboração entre o FAD e a FCG iniciou-se nos anos 80, quando esta última financiou as escavações arqueológicas no Baan Portuguet (‘Campo Português’), onde se situava a antiga feitoria – estabelecida depois o tratado de amizade e comércio de 1516 entre Portugal e o Sião – e três igrejas de Ayutthaya, a capital do reino tailandês até ao século XVIII, lembra Luísa Dutra.

«As escavações permitiram a descoberta de um cemitério com inúmeros esqueletos de adultos e crianças, portugueses e siameses, bem como objetos diversificados (moedas, medalhas, crucifixos)», acrescenta a responsável do CCP/IC. «Na fase seguinte procedeu-se à reabilitação do sítio. As ruínas da Igreja de São Domingos e parte do cemitério podem hoje ser visitados pelo público». A intervenção, concluída em 1995, contemplou também a construção de um pavilhão para albergar as dezenas de ossadas encontradas e um cais para permitir o acesso fluvial a partir de Banguecoque.

A mostra compreende enormes painéis com fotografias e textos relativos a intervenções efetuadas ou patrocinadas ao longo dos anos pela FCG, entidade que também é responsável pela edição de uma obra monumental em três volumes (entretanto traduzida para inglês), dirigida pelo historiador José Mattoso, em que é feito um levantamento exaustivo do património português no mundo até ao século XX.

ÁFRICA ORIENTAL E ÁSIA
Na África oriental mostra-se o Forte de Santiago, em Quíloa, na Tanzânia, edificado em 1505, e intervencionado em 1999 na base um projeto oferecido pela FCG, e o Forte de Jesus (construído a partir de 1593), em Mombaça, no Quénia, o primeiro monumento a ser restaurado no mundo pela fundação, em 1958, dois anos depois de uma visita de Charles Boxer e Carlos Azevedo – que recolheram informação publicada em livro e novamente alvo de intervenção em 2001.

No continente asiático, a exposição mostra duas fortalezas no Irão, a de Ormuz, iniciada em 1507 por Afonso de Albuquerque, e a de Qeshm, ligada ao dispositivo logístico de Ormuz. Relativamente a ambas, a FCG ofereceu às autoridades iranianas projetos de reabilitação.

Da Índia, a exposição evoca a instalação em Rachol, feita em 1994 pela FCG, de um museu de arte sacra indo-portuguesa, cujas peças foram posteriormente transferidas para o Convento de Santa Mónica, em Velha Goa, onde podem vistas no Museum of Christian Art. Ainda no campo da museologia, está o museu indo-português de Cochim, inaugurado em 2001, no Estado do Kerala, cujo projeto foi realizado pela FCG. No subcontinente indiano, mostra-se também a intervenção financiada pela fundação e terminada em 2009 na catedral de Calecute, construída pelos portugueses em 1724, e a intervenção na Igreja do Santo Rosário, em Daca (Bangladesh), de 1677, na base de um projeto desenvolvido pela FCG.

Chegada ao sudeste asiático, a exposição, depois de mostrar a reabilitação das ruínas da Igreja de São Domingos, da feitoria portuguesa de Ayutthaya, ‘segue’ para Malaca, com a apresentação da Porta de Santiago, o último vestígio da fortaleza construída pelos portugueses após a tomada da cidade por Afonso de Albuquerque, em 1511, e da Igreja de São Paulo, construída por jesuítas portugueses.

A cruz de Fernão Magalhães, monumento erigido em Cebu, nas Filipinas, no local em que o navegador português colocou uma cruz de madeira para assinalar a sua passagem em 1521, e o palácio da água, em Yogyakarta, na Indonésia, construído no século XVIII na base de planos de um arquiteto de ascendência portuguesa de Goa ou Malaca, completam as intervenções da FCG mostradas numa exposição em que, além dos painéis com fotografias, as maquetas constituem um dos principais motivos de interesse.