Marcelo Rebelo de Sousa apresenta “Potencial Económico da Língua Portuguesa”

No dia 5 de dezembro de 2012, quarta-feira, pelas 19:30, no Palacete Seixas, sede do Camões-Instituto da Cooperação e da Língua, situado na Av. da Liberdade, 270 (junto ao Marquês de Pombal), o Professor Marcelo Rebelo de Sousa apresentou ao público o livro “Potencial Económico da Língua Portuguesa”, apresentação que teve difusão em direto através de videoconferência, pela internet.

Trata-se de um trabalho de investigação conduzido por uma equipa de investigadores do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE - IUL) sobre o valor económico da língua portuguesa, a pedido do Camões, IP, que em 2008, organizou a distribuição e recolha do inquérito por questionário aos seus estudantes em todo o mundo.

O “Potencial Económico da Língua Portuguesa” compreende o estudo que pela primeira vez estimou em 17% o peso da língua no PIB português, a partir de um método criado por Martin Municio (e aplicado a Espanha, onde o espanhol representa 15% do PIB).

O livro agora publicado compreende duas partes. Na primeira são apresentados estudos ligados às relações entre variáveis económicas/sociais e língua, efetuados pela equipa liderada por Luís Reto, reitor do ISCTE-IUL, e constituída pelos investigadores José Paulo Esperança, Mohamed Azzim Gulamhussen, Fernando Luís Machado e António Firmino da Costa. Na segunda parte, dá conta dos resultados de um inquérito sobre «usos e perceção dos utilizadores da língua», realizado junto de cerca de 2.500 aprendentes de português nas universidades e escolas do mundo em que existem centros de língua e leitorados apoiados pelo Instituto Camões (atual Camões – Instituto da Cooperação e da Língua) em 2008.

Para 2010, o livro indica a existência de 254,54 milhões de «falantes nativos» de português, correspondente às populações dos 8 países de língua oficial portuguesa, o que compara com os ‘cerca’ de 400 milhões (os dados mais precisos divergem) de falantes de cada um dos universos de espanhol e inglês. Valor para o português que não compreende pequenos núcleos de falantes nativos noutros territórios (Goa, Macau) nem os emigrantes fora do espaço lusófono. Os autores reconhecem que «nem todos os naturais» dos 8 países, nomeadamente os africanos e os timorenses, têm o português como língua materna. Este universo de falantes e países corresponde a 3,66% da população mundial e a 3,85% do PIB mundial, respetivamente.

Os estudos colocam a língua portuguesa entre a dezena de idiomas «supercentrais», que rodeiam o inglês «hipercentral» e vaticina-lhe «um lugar de relevo no contexto mundial deste novo século», ao falar do «efeito de rede». Este efeito, estudado para outras áreas, como as telecomunicações ou as redes sociais, postula que «o valor económico da língua resulta sobretudo das economias de rede que lhes estão associadas». «Quanto maior o número e a riqueza dois utilizadores de um idioma, maior o seu valor para o utilizador».

Impacto da língua no IDE

Na avaliação do peso económico da língua, a obra dá atenção ao valor das indústrias culturais e criativas (dependentes fortemente do fator língua), apresentadas hoje em dia como um importante instrumento de criação de riqueza e emprego. Reportando-se a um estudo de 2008 da empresa Augusto Mateus e Associados, indica que aquele setor representava em 2006 2,8% de toda a riqueza criada em Portugal.

Inovador nos estudos publicados relativamente a Portugal e ao português é a avaliação feita no livro do efeito da língua no comércio externo e no investimento direto estrangeiro (IDE). Se no caso do comércio externo, «a proximidade linguística tem um impacto quase nulo nas importações» de Portugal, já «o peso de Angola» nas exportações portuguesas «faz com que os países de língua oficial portuguesa absorvam cerca de 8% das exportações nacionais». No comércio externo, o estudo deteta que os fatores relevantes são «a proximidade geográfica e a integração económica».

O mesmo não acontece no IDE português, em que «a proximidade linguística é muito importante». Os autores, que teorizam sobre as barreiras que as diferenças de língua e cultura constituem ao IDE, escrevem que «Brasil e Angola têm um peso muito significativo, na medida em que representam 17% das saídas de investimento direto com origem em Portugal». «Também à entrada se verifica um peso superior ao natural do investimento direto, oriundo principalmente do Brasil e Angola, representando 5,7% do total em 2010».

Influenciados também por fatores linguísticos estão os fluxos migratórios e o turismo. Aliás, «o fluxo com maior sensibilidade à proximidade linguística é o das migrações», afirma o livro, em que se pode ler que, segundo dados de 2009, «mais de 50% dos imigrantes que residem em Portugal são oriundos dos países de língua portuguesa». No sentido contrário, «apesar da preferência por locais de destino mais ricos, cerca de 16% dos emigrantes portugueses optaram por países de língua oficial portuguesa, com destaque para Angola e Moçambique».

Quanto às remessas dos emigrantes portugueses, os dados sugerem, no dizer dos investigadores, que a maioria dos que estão estabelecidos no Brasil encontram-se aí de uma «forma mais duradoura, enquanto os de Angola enviam remessas de montante próximo das que são enviadas pelos emigrantes em países europeus».

O futuro

Quanto ao impacto da língua no turismo, ele é «muito moderado», refere o livro, que acrescenta permitir uma «análise mais fina» verificar que «uma percentagem dos turistas brasileiros na Europa faz pelo menos uma paragem em Portugal», aspeto também registado com nacionais de outros países de língua oficial portuguesa, permitindo prever «uma forte expansão do número de visitantes oriundos desses países, à medida que a classe média se consolide e o nível de turismo se intensifique». Brasil e Cabo Verde são por seu lado «locais de destino muito procurados» por portugueses.

Na síntese final do estudo, afirma-se que «a língua portuguesa é hoje uma das mais influentes do mundo, com tendência para o crescimento dos seus falantes, dos utilizadores como segunda língua e da sua afirmação como língua de cultura e ciência», sendo este último um dos aspetos também abordados no estudo.

A implantação do português como «língua de comunicação internacional» é atribuída ao «crescimento económico muito acentuado na última década, com destaque para Angola e o Brasil», às «boas práticas de governo em praticamente todo o universo dos países de expressão portuguesa» e ao «reconhecimento internacional de personalidades e instituições do espaço lusófono» em paralelo com a afirmação de empresas multinacionais e universidades com sede nalguns destes países.

O «elevado grau de intercompreensão entre os falantes de português, apesar de algumas diferenças lexicais e gramaticais», também é enfatizado no livro, que diz ser isso uma «mais-valia». «A coesão de uma língua reforça a sua vantagem comparativa no quadro da globalização», afirmam os autores citando o académico espanhol José Luís Garcia Delgado.