A internet como recurso pedagógico

Oficina de trabalho em Maputo

Pode a falta de recursos pedagógicos característica de um meio em vias de desenvolvimento representar uma oportunidade para as novas tecnologias, nomeadamente para a internet, no ensino da Língua Portuguesa (LP)? Pode sim.

Número 129   ·   27 de Agosto de 2008   ·   Suplemento do JL n.º 989, ano XXVIII

Pelo menos é essa a posição de José António Marques, leitor do Instituto Camões na Universidade Pedagógica - Maputo, que realizou a 13 de Agosto na capital moçambicana a sua 3ª oficina de trabalho dedicada ao tema A Importância da Internet para o Ensino da Língua Portuguesa, tendo como alvo essencialmente estudantes e docentes dos cursos de Bacharelato e Licenciatura em Ensino de Português.

«A carência de bibliotecas especializadas e de mediatecas impede, muitas vezes, o professor de preparar adequadamente as suas aulas, tanto sob o ponto de vista científico como didáctico. A Internet, com a sua gigantesca biblioteca virtual, pode compensar a falta de bibliotecas públicas e auxiliar o docente nas suas pesquisas e na preparação das suas aulas», considera o docente português.

José António Marques admite a existência de alguns problemas no que toca ao recurso à Internet. Uns são de ordem geral: «a Internet é, hoje, um mundo infindável de conteúdos, nem todos bons e cientificamente fiáveis, é certo», diz. Outros são mais específicos de países como Moçambique: a percentagem de professores que possui computador pessoal é muito baixa e os custos da internet doméstica «são incomportáveis com o salário de um docente».

No entanto, o recurso a espaços públicos - como bibliotecas e ONG - permite ultrapassar o problema, tornando a Internet «uma fonte de informação e pesquisa que os professores de LP têm de saber aproveitar», sustenta o leitor.

A sala do Centro de LP - Instituto Camões, na Universidade Pedagógica, em Maputo, é um desses locais. Dispõe de 12 computadores com acesso de Banda Larga à internet e outros equipamentos electrónicos que estão diariamente ao serviço dos utentes do Centro, reunindo, deste modo, as condições necessárias para a realização da oficina de trabalho

A Internet representa «uma biblioteca virtual onde é possível encontrar desde textos integrais de autores, a análises textuais, passando por dicionários e enciclopédias, até conteúdos programáticos estruturados e apresentados sob um ponto de vista didáctico atractivo», afirma José António Marques.

O professor de Português pode assim «recolher informação nas áreas da literatura, da linguística, da didáctica, do ensino da LP e de todos ou praticamente todos os conteúdos adoptados pelos programas escolares de LP», acrescenta. Os sítios da Internet parecem ser também um bom meio para, com rapidez, «colmatar lacunas científicas e sobretudo dúvidas específicas sobre determinados conteúdos e simultaneamente inspirarem o docente para uma apresentação mais atractiva e didacticamente mais rentável».

José António Marques refere que «o número de sítios e blogues relacionados com a LP e com a didáctica da LP tem vindo a aumentar». «Existe uma multiplicidade de sítios na Internet que um professor de Português pode e deve frequentar. No espaço da Lusofonia, a quase totalidade das páginas de Internet disponíveis é portuguesa ou brasileira, embora o Brasil apresente, relativamente a Portugal, um número significativamente mais elevado de páginas», indica o docente português.

Durante a oficina de trabalho, que se iniciou com uma pesquisa livre, através do Google, permitindo aos participantes verificarem a enorme quantidade de informação disponível na Internet sobre temas ou conteúdos da área da língua ou da literatura que constam dos programas de Português do Ensino Secundário, foram visitados alguns sítios de interesse para os docentes e estudantes de LP, nomeadamente www.instituto-camoes.pt/cvc/, http://ciberduvidas.sapo.pt/, http://portuguesonline.no.sapo.pt/, www.pucrs.br/gpt/ e www.pucrs.br/manualred/.

«A visita a estes sítios permitiu aos participantes constatar que a Internet oferece hoje recursos e conteúdos muito diversificados que vão desde a cultura e literatura portuguesa e dos países lusófonos até ao ensino da língua, passando pela formação na área do ensino e aprendizagem da LP na modalidade de e-learning», considerou José António Marques.

«O professor pode, servindo-se da Internet, preparar, com rigor científico, um conteúdo de língua ou literatura e, inspirado pelas propostas de actividade oferecidas pelo ciberespaço, planificar e desenvolver uma aula pedagogicamente atractiva».

Sendo a Internet um espaço aberto, que todos os dias recebe novos contributos, José António Marques apelou aos professores moçambicanos de Português a que enriqueçam este espaço com as suas pesquisas e propostas de actividades.