A leitora dos ‘sete ofícios’

Número 139   ·   3 de Junho de 2009   ·   Suplemento do JL n.º 1009, ano XXIX  

Dá aulas, dirige o Centro de Língua Portuguesa (CLP), colabora e organiza muitas das actividades do Centro Cultural Português (CCP), mantém um blogue, está a criar um grupo de teatro e prepara a sua tese de mestrado.

S. Tomé
Foto de Carlos Mendes Pereira

Filipa Fava (n. 1978) é a leitora/formadora do Instituto Camões (IC) no Instituto Superior Politécnico (ISP) de São Tomé e Príncipe (STP), o único estabelecimento de ensino superior público deste pequeno país insular de língua portuguesa no Golfo da Guiné, que oferece 9 licenciaturas e 2 bacharelatos.

«Para além de ensinar e promover a língua e cultura portuguesas, sou formadora de professores de Português, ou seja, ensino metodologias e didácticas de língua, literatura e cultura e oriento e supervisiono os estágios dos professores em formação, dentro do que é o currículo académico dos alunos da Licenciatura em Língua Portuguesa do ISP», explica Filipa Fava, que no 2º semestre deste ano tem 90 alunos espalhados pelos quatro anos do curso.

Ao ‘chapéu’ de professora, esta licenciada em Línguas e Literaturas Modernas – Variante de Estudos Portugueses, junta também o de directora do CLP que funciona no ISP e que Filipa Fava descreve como «um centro de recursos bibliográficos e multimédia», semelhante aos que existem noutros países, mas que, diferentemente deles, tem uma importância acrescida no contexto local.

Possuindo diversos equipamentos não facilmente acessíveis em STP (computadores, impressoras, fotocopiadora, Internet, etc.), o CLP dispõe de «um acervo bibliográfico não despiciendo, tendo em conta as bibliotecas do país», acervo esse que cobre as literaturas lusófonas, os estudos literários e linguísticos e as ciências da educação, para além de obras gerais sobre História, Arte, Filosofia e Informática, dicionários e gramáticas, revistas e periódicos e ainda materiais didácticos audiovisuais e multimédia.

Embora o CLP esteja vocacionado para a população estudantil e docente, os seus computadores estão abertos ao público, assim como o seu fundo bibliográfico, desde que se possua um cartão do CLP. «Temos um total de 2026 inscritos neste momento. Em média, por dia, temos 30 utentes» – ou seja, 600/700 utentes por mês.

O CLP é, assim, «fundamental para os estudantes do ISP e outros estudantes, como os do Liceu Nacional, já que é o centro com bibliografia mais completa e actualizada no mundo da língua portuguesa», a que se somam as possibilidades abertas pelos seus equipamentos, diz Filipa Fava.

As dificuldades que o CLP sente são as que decorrem ao fim e ao cabo da especificidade do país: cortes muito frequentes de energia e de acesso à Internet. Mas há também a dificuldade de «motivar o público para actividades culturais que envolvam actividades reflexivas como a leitura, o cinema ou mesmo a música – quando unicamente para ser ouvida e não dançada», reconhece a leitora.

Os outros ‘chapéus’

A intensa actividade obriga a que o CLP disponha de dois funcionários, estudantes do ISP, que mantêm o centro aberto e gerem a parte de inscrições, requisições, consultas e uso do material por parte de alunos e professores, afirma Filipa Fava. Já este ano, foi recrutado por concurso um assistente de direcção do CLP, que entrará em funções no início do ano lectivo de 2009/10, para apoio às tarefas administrativas e à «operacionalização das actividades culturais do Leitorado». Porque o CLP, para além da formação que ministra, dinamiza «celebrações de dias e efemérides, com exposições, visionamento de filmes e audição de música, entre outras» acções.

De facto, as actividades culturais são uma parcela significativa das tarefas de Filipa Fava, que participa na dinamização do CCP, dirigido pelo encarregado de negócios Vasco Seruya. «Como acontece com todos os leitores, uma das minhas funções é precisamente colaborar na programação e realização de actividades culturais no CCP-IC», explica Filipa Fava. «O CCP é um centro cultural cujo público destinatário é mais alargado [do que o CLP], abrangendo a população em geral».

A ligação não afecta a autonomia do CLP «para estabelecer parcerias com entidades culturais são-tomenses», diz Filipa Fava. É o caso das acções que promove de forma regular com a União Nacional de Escritores e Artistas São-tomenses, presidida pela poetisa Alda do Espírito Santo, ou com a Rádio Nacional, realizando semanalmente um programa de rádio sobre língua, culturas e literaturas lusófonas. Mas muitas actividades são repartidas entre os dois centros.

As actividades do CLP, e também do CCP, são divulgadas e promovidas através do blogue (http://clp-stome.blogspot.com/) criado pela leitora. O objectivo é também incentivar os alunos a «aprender mais sobre as novas tecnologias, interessando-se ao mesmo tempo pela língua e cultura portuguesas». Mas as dificuldades de acesso à Internet, «problema deveras gritante no país», no dizer de Filipa Fava, têm criado obstáculos à participação dos alunos. O curso de iniciação à Internet no CLP, previsto para este ano, foi suspenso por falta de ligações regulares à rede.

A tudo isto, Filipa Fava juntou a vontade de criar um grupo de teatro do CLP, «uma das apostas do leitorado». Tendo feito teatro, conhece as potencialidades da arte dramática. Admite contudo que a falta de «espaço e tempo» tem atrasado a concretização do projecto. Mas espera que o trabalho pontual que tem sido feito permita a criação de um espectáculo no próximo ano lectivo.