As oficinas de trabalho

Número 139   ·   3 de Junho de 2009   ·   Suplemento do JL n.º 1009, ano XXIX  

Na opinião da co-curadora Lúcia Marques, dois factores ditaram que a itinerância do ciclo entre Partidas e Chegadas tenha «superado todas as expectativas iniciais» e os resultados sejam «profundamente positivos!»

As oficinas de trabalho
Foto Luciamarquesprojects.blogspot.com
Isso deveu-se, por um lado, ao carácter «bifacetado» do ciclo, com uma exposição de artes plásticas e uma mostra de cinema, por outro, à realização de oficinas de trabalhos (workshops) «em cada local de apresentação», «sem dúvida um dos seus grandes factores de sucesso».

A associação dos trabalhos apresentados na exposição Deslocações e os sete documentários cinematográficos, diz Lúcia Marques, «tornou o projecto muito apetecível, pois para além do tema ter uma ligação directa ao quotidiano do público, também proporciona o cruzamento de audiências que podem ter preferência por uma ou outra manifestação artística mas que acabam por ir ter curiosidade de conhecer o projecto nas suas duas vertentes».

«Sentiu-se esse potencial na resposta que os centros culturais [local de mostra da exposição] tiveram quando o Instituto Camões sugeriu a circulação do projecto», considera Lúcia Marques.

Mas a oficina de trabalho, com a sua «vertente pedagógica, de partilha de experiências criativas, permitiu criar uma ligação efectiva do projecto a cada local, uma vez que a exposição integrou em cada novo destino geográfico trabalhos seleccionados no respectivo workshop».

«Foi, aliás, um projecto que necessitou de muito poucos recursos se considerarmos o alcance que conseguiu ter», sublinha a curadora. «Os artistas não puderam ir a Bruxelas quando o projecto estreou, mas depois cada um foi numa das etapas dar um workshop relacionado com a sua própria actividade artística: o André Cepeda em São Tomé, o José Carlos Teixeira em Maputo, o Edgar Martins em Brasília e a Tatiana Macedo em Luanda. Em Cabo Verde, fui eu a dar um workshop sobre a organização e leitura crítica de portfolios, e por isso também nessa etapa incluímos obras de artistas locais na exposição».

Desta experiência das oficinas de trabalho resultou, adianta Lúcia Marques, a criação de «uma rede de contactos e partilha de experiências entre artistas, curadores, instituições, ligando contextos com alguns pontos em comum, mas muito diferentes nas condições que têm para oferecer, se pensarmos no que hoje consideramos ser um circuito artístico operacional».

«Tenho a certeza que, a partir deste projecto, os artistas que entretanto se conheceram já deram origem a outros projectos em conjunto. Esse é um dos resultados mais gratificantes: perceber que o projecto juntou gente que agora dará origem a outras iniciativas, movida por interesses comuns, mesmo estando separados por oceanos ou outras fronteiras menos físicas...»