Festival APAP em Zagreb

A 3ª e última etapa da projecto The art of survival - artistic views on the social (A arte da sobrevivência - visões artísticas sobre o social), promovido pela rede APAP (Advancing Performing Arts Project) VI, integrada por oito organizações europeias de artes performativas, entre as quais a Transforma - Associação Cultural, sedeada em Torres Vedras, teve lugar em Zagreb, na Croácia, entre 11 e 14 de Dezembro.

Número 133   ·   17 de Dezembro de 2008   ·   Suplemento do JL n.º 997, ano XXVIII

Festival APAP
TRANSFORMA
Este projecto, que começou em Berlim e depois passou por Bruxelas, com novas peças, foi mostrado na integralidade das suas cerca de 30 obras nos Balcãs, no Centro Estudantil de Zagreb, no quadro da feira de artes que esta instituição organiza regularmente e que é considerada uma das mais importantes no campo da arte contemporânea europeia, com «um dinamismo que ultrapassa os outros locais» em que a APAP VI esteve, segundo Tiago Miranda, director executivo da Transforma.

Beneficiando de dinheiros comunitários do Programa Cultura, as actividades da APAP, que reúne teatros, associações como pequenos espaços, estúdios de dança, etc., iniciaram-se há cerca de 10 anos. As entidades que integram a rede APAP, que se vêem «quatro e cinco vezes por ano», segundo Tiago Miranda, estabeleceram interligações que lhes permitem criar projectos, trocar colaboradores, promover estágios e lançar de dois em dois anos um projecto comum. A rede arrancou já com o próximo projecto da APAP, que compreenderá nesta sua configuração um total de 14 entidades culturais europeias.

«O que foi fundado para um apoio conjunto a jovens artistas desenvolveu-se crescentemente numa plataforma para conceber e implementar projectos artísticos que só poderiam emergir dentro desta rede e, além disso, também num fórum para a análise teórica da função, produção e distribuição das artes performativas contemporâneas na Europa», lia-se no catálogo da mostra de Zagreb.

Festival APAP
Raparigas. The Angola Project. Jeremy Xitundo
A elaboração deste catálogo - uma classificação do documento que Tiago Miranda rejeita, por em seu entender ser antes um trabalho sobre os conteúdos do projecto - constituiu um dos dois contributos da Transforma para a etapa de Zagreb da APAP VI. O conceito editorial pertence à associação de Torres Vedras que, para o efeito, trabalhou com a ‘Corpus\', uma entidade austríaca co-responsável pelos conteúdos.

Tiago Miranda e Luís Firme, Presidente da Direcção da Transforma, deslocaram-se também a Zagreb, com o apoio do Instituto Camões, para participar na apresentação de The Angola Project, de ‘Cabula6\', o suporte do actor/performer e autor norte-americano Jeremy Xido.

Este projecto, no dizer de Xido, consistiu na «realização de um filme como performance», isto é, não do filme em si, que está por realizar ainda e que tem como tema a reconstrução do corredor dos Caminhos de Ferro de Benguela, em Angola, ou mais propriamente, das pessoas que participaram na sua reconstrução e que vivem ou viveram ao longo da linha que atravessa de leste a oeste aquele país africano.

«O projecto começou com a ‘Transforma\' a dizer que estavam a fazer outro projecto APAP e que o tema, tanto quanto eu entendi, tinha alguma coisa a ver com imigração. Pediram-me que apresentasse um projecto e a minha proposta esteve relacionada com o que eu estaria interessado em fazer: a realização de um filme como performance», explicou Xido.

Festival APAP
Jeremy Xido - Cabula6
A Transforma organizou a produção, quando o autor norte-americano se deslocou a Portugal, num trabalho de recolha e registo em vídeo de entrevistas com a comunidade angolana, colocando questões sobre o passado colonial e a sua relação com a actual ordem social. Dessa viagem a Lisboa, que durou cinco semanas, Xido, que viveu na infância num bairro de Detroit - uma cidade onde 85% da população é negra -, em que a única família branca era a sua, declarou-se impressionado «pelo enorme número de africanos» por que passou ao andar de metro. «Muito mais que na Alemanha, Londres, Espanha, Áustria...»

Daqui resultou uma «espécie de instalação» - no dizer de Tiago Miranda -, com suporte vídeo em que o actor/autor norte-americano apresentou e falou sobre o material que recolheu e o discutiu numa ‘Conversa Pública\' com Lina Saneh.

A segunda parte do projecto O Caminho-de-ferro de Benguela, Angola focará a reconstrução da linha efectuada por operários e empresas chinesas.