Instalação de Leonel Moura no IN-SONORA: A floresta de robôs

Em 2006, o Museu Americano de História Natural, em Nova Iorque, colocou em exposição RAP (Robotic Action Painter), o robô pintor criado pelo artista plástico e ensaísta português Leonel Moura que é capaz de produzir obras de arte originais. No sítio do Museu, questionando o modo de funcionamento do robô procura-se responder à clássica pergunta sobre o que é que torna os seres humanos únicos. A arte? E aquilo que o robô RAP faz é arte? Ele é um artista? As respostas não são taxativas …

Leonel Moura (n. 1948) vai agora apresentar a sua instalação sonora Art Insect Robots (AIR) de 19 de Novembro a 2 de Dezembro no Festival de Arte Sonora e Interactiva IN-SONORA, em Madrid, no âmbito da VII Mostra Portuguesa em Espanha, prosseguindo a sua exploração da robótica e da inteligência artificial, com a reedição de uma instalação que apresentou já em 2008 com base em pequenos robôs – os BEAM, na sigla inglesa, para Biologia, Electrónica, Estética (Aesthetics) e Mecânica – que mimetizam uma nova espécie de vida, no caso artificial.

«A instalação AIR consiste num conjunto de 50 pequenos robôs enclausurados, cada um dentro de uma campânula de vidro com a forma de um pingo. Estes pingos variam em altura, entre 1 e 2 metros, e são distribuídos no espaço de forma a constituírem uma espécie de floresta que os visitantes devem atravessar», assim descreve a sua obra o artista plástico português.

«Cada pequeno robô é alimentado por uma placa fotovoltaica tornando-se desse modo totalmente autónomo. Uma vez acumulada suficiente energia, o robô agita-se, provocando um som ao bater no vidro. Dessa performance colectiva resulta um ambiente sonoro singular», acrescenta Leonel, que frisa estar na base deste projecto o seu conhecido interesse pela robótica aplicada à arte.

Além do seu robô pintor, criado com apoios da Fundação para a Ciência e Tecnologia e da CGD, Leonel Moura desenvolveu também em 2006 um robô poeta, ISU, capaz de escrever poemas e, mais tarde, criou em Alverca um ‘jardim zoológico’ de robôs, o Robotarium, primeiro deste tipo no mundo.

«Se, por um lado, os meus robôs pintores ou o robô poeta assentam na exploração da inteligência artificial e, portanto, envolvem uma considerável sofisticação tecnológica, por outro, estes pequenos robôs insectos, primitivos e limitados, representam uma atitude que considera a robótica como uma nova forma de vida, ainda que artificial», considera Leonel Moura.

«De qualquer modo, muito ou pouco sofisticados, os robôs aplicados à arte abrem as portas para uma nova forma de arte e uma criatividade que emerge dos desenvolvimentos tecnológicos e científicos da actualidade. Uma arte do século XXI», conclui.

 

Encarte Camões no JL n.º 145

Suplemento da edição n.º 1021, de 18 de novembro a 1 de dezembro de 2009, do JL - Jornal de Letras, Artes e Ideias