Israel um país seguro à sua maneira

Número 138   ·   6 de Maio de 2009   ·   Suplemento do JL n.º 1007, ano XXIX 

Por «irónico» que pareça, Israel é um país «bastante seguro, diria mesmo excepcionalmente» seguro, afirma Marta Gamito, leitora do Instituto Camões (IC) na Universidade Hebraica de Jerusalém, que vive naquele país do Médio Oriente desde 2005.

 

Marta Gamito
Marta Gamito
«O que quero dizer é que aqui se vive um outro tipo de insegurança, pois em relação ao pequeno crime, à delinquência, à ameaça social, como aquela que conhecemos em Portugal e no resto da Europa, Israel é um país bastante seguro», afirma Marta Gamito, nascida em 1982 em Lisboa e licenciada em Língua e Cultura Portuguesa pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

 

«Andar na rua a horas tardias, em situações normais, não suscita sentimentos de insegurança ou de ameaça», sublinha a leitora do IC, que no entanto reconhece existir em Israel «um tipo de insegurança que nós [portugueses], felizmente, não conhecemos de perto» – a insegurança resultante do conflito que dura há décadas entre árabes e israelitas na região e que leva o país a enfrentar «constantemente a ameaça de uma guerra».

 

Isso reflecte-se no ambiente social, afirma a leitora. «Por um lado é um país, e nomeadamente Jerusalém (onde vivo), tenso, não só tenso, mas intenso», por outro, «as relações sociais fazem-se de forma bastante simples e espontânea».

 

«A segurança em Israel é, sem dúvida, uma prioridade social», que «se manifesta claramente na vida quotidiana – existem seguranças à porta de grande parte de estabelecimentos públicos (supermercados, restaurantes, paragens de autocarro, cinemas, mercados de rua) – sem no entanto a alterar de forma nenhuma».

 A forma como a jovem portuguesa vive essa realidade, reside, «basicamente» em manter-se informada, «o mais informada possível». «De resto, tento manter o meu dia-a-dia, sem fazer alterações de rotina», acrescenta Marta Gamito, para quem a «principal dificuldade» que enfrenta é não conhecer o idioma hebraico.

«Embora o inglês seja uma língua dominada pela maioria da população e, sem dúvida, por grande parte, senão mesmo pela totalidade da população académica, o conhecimento insuficiente da língua hebraica pode constituir por vezes um bloqueio nas dinâmicas sociais, em geral», explica.

 

Isso não impediu a leitora de se aperceber que «os israelitas adoram conversar, adoram estabelecer relações sociais, adoram perguntar coisas, são pessoas bastante curiosas sobre tudo e especialmente sobre o mundo, adoram viajar».

 

«Um dos motivos que leva os alunos a procurarem as aulas de português é porque estiveram anteriormente no Brasil». E a razão pela qual estiveram no Brasil resulta do facto de ser bastante comum, depois do exército (obrigatório aos 18 anos para rapazes e raparigas), os jovens trabalharem para juntar dinheiro e fazerem uma longa viagem de vários meses de mochila às costas. Os destinos principais são a América Latina e a Índia.

Outra das coisas que continua a impressionar a leitora em Israel «é o espírito de entreajuda» que se encontra nas situações mais banais («desde oferecerem-se para ajudar a carregar os sacos do supermercado, a ajudar mães com os carrinhos dos bebés, os mais idosos, etc.»).