«Teatro Visual» por terras brasileiras

Companhia Paulo Ribeiro em Porto Alegre, Caxias do Sul e Salvador

Por estes dias a Companhia Paulo Ribeiro, grupo de artes performativas residente no Teatro Viriato, em Viseu, encontra-se por terras brasileiras. Depois de ter apresentado o espectáculo Noite de Reis - Dez personagens e um cão no Festival de Porto Alegre em Cena, um dos mais importantes festivais brasileiros multidisciplinares de artes do espectáculo, que comemora este ano o seu 15º aniversário, a companhia apresenta-se de sexta a segunda-feira no Teatro Vila Velha, em Salvador, para uma série de quatro sessões com dois espectáculos e a participação dos seus elementos em debates e oficinas de trabalho, no âmbito de um projecto que a instituição brasileira designou por «Portugal em Cena».

Número 130   ·   24 de Setembro de 2008   ·   Suplemento do JL n.º 991, ano XXVIII

A presença da Companhia Paulo Ribeiro em Porto Alegre suscitou alguma expectativa, traduzida no facto de ter estado entre os grupos participantes no festival que viram os bilhetes para as suas apresentações praticamente esgotados assim que foram postos à venda.

São já antigas as relações do Teatro Vila Velha com artistas e grupos artísticos das artes de palco portuguesas e lusófonas. Cena Lusófona, Teatro Nacional de São João, Instituto Goethe, CENDREV, Escola Superior de Teatro e Cinema e Mindelact (Cabo Verde) têm participado nas suas actividades enquanto centro de formação e preparação de actores.

Ainda antes de chegar a Salvador, a companhia portuguesa, constituída por Paulo Ribeiro e Leonor Keil, e que conta com o apoio do Instituto Camões nesta deslocação, esteve a 23 de Setembro em Caxias do Sul, uma cidade industrial brasileira a cerca de uma centena de quilómetros a norte de Porto Alegre, onde igualmente apresentou Noite de Reis, espectáculo de «Teatro Visual», com o qual, juntamente com Malgré nous, nous étions là, se apresenta ao público baiano.

«O Teatro Visual procura explorar o Teatro e o acto de representação, privilegiando o lado físico e visual. Através de uma cuidadosa selecção do texto, limita o uso da palavra ao mínimo para a percepção da narrativa na sua essência. O Teatro Visual desenvolve assim a imaginação do espectador, criando-se uma grande cumplicidade com as personagens, para uma forma diferente de entendimento da estória» - explica a companhia viseense no seu sítio.

Noite de Reis, estreada em Portugal no Centro Cultural de Belém, em Fevereiro de 2006, é uma representação a solo pela actriz Leonor Keil do texto de Shakespeare, com encenação de John Mowat, já anteriormente responsável da peculiar montagem pela Companhia Paulo Ribeiro do clássico de Gil Vicente Auto da Barca do Inferno.

«Confusão, caos, troca de identidade, intriga, amor, luxúria, embriaguês, comportamento desenfreado, artimanha, demência, sedução e lascívia são conjurados pela Leonor Keil na sua interpretação a solo que dá vida à galeria das personagens cómicas de uma Noite de Reis de Shakespeare», afirmou na altura sobre a peça Mowat, um encenador inglês, que da escultura, passou à pantomina e ao teatro e que em Portugal criou diversos espectáculos para o Chapitô.

O segundo espectáculo que a Companhia Paulo Ribeiro leva a Salvador, Malgré nous, nous étions là (2006), tem como ponto de partida a poesia do Livro da Dança de Gonçalo M. Tavares, sendo a música de Bernardo Sassetti, Gilbert Bécaud, Barbara e Travadinha. A direcção, coreografia e interpretação são de Paulo Ribeiro, esta última partilhada pelo ex-director artístico do extinto Ballet Gulbenkian com Leonor Keil.

Criada em 1995, a Companhia Paulo Ribeiro mudou-se para Viseu em 1998, onde se estabeleceu como companhia residente no Teatro Viriato. Em 2003, Paulo Ribeiro, um bailarino e coreógrafo possuidor de um vasto e premiado currículo nacional e internacional, assumiu a direcção artística do Ballet Gulbenkian, experiência que terminaria com a extinção desta companhia em 2005. Regressou então a Viseu.