Uma janela de ‘serviço público’

Base temática de música portuguesa no Centro Virtual Camões

O acesso à base temática do Centro de Informação da Música Portuguesa (CIMP)/Miso Music Portugal, a partir do Centro Virtual Camões (CVC), está operacional desde o final de Janeiro no endereço http://cvc.instituto-camoes.pt/conhecer/bases-tematicas/musica-portuguesa-dos-secs-xix-xx-e-xxi.html, dotando a plataforma digital do Instituto Camões (IC) de um novo recurso, quer para especialistas quer para o grande público.

Número 135   ·   11 de Fevereiro de 2009   ·   Suplemento do JL n.º 1001, ano XXVIII

Miguel Azguime
Miguel Azguime. Miso Music
O CIMP, projecto implementado entre 2001 e 2004, pelos músicos Miguel Azguime e Paula Castro Guimarães, criadores do Miso Ensemble, com um investimento de 296 mil euros, suportado por fundos do FEDER e do POSI (Programa da Sociedade da Informação), foi inaugurado em linha em Janeiro de 2006, segundo os seus fundadores, que fazem questão de o apresentar como um «serviço público», pelas suas características de gratuidade, universalidade e de promoção da música portuguesa no estrangeiro.

«É uma grande janela aberta para intérpretes, programadores e melómanos estrangeiros a quem interesse a música portuguesa. É a primeira vez que é possível ter acesso e pesquisar a música portuguesa, saber quem são os seus activos agentes - os compositores, os intérpretes, encontrar as obras, ouvir fragmentos, ver partituras e, eventualmente, vir a tocar, que é o nosso objectivo», afirma o criador e intérprete da ópera multimédia O Itinerário do Sal.

A base temática do CIMP - cujas partituras de compositores portugueses do período coberto estão já directamente disponíveis na Biblioteca Digital Camões (BDC) desde 8 de Janeiro, data da entrada em linha da sua renovação -, visa recolher, preservar, investigar, editar digitalmente, distribuir e divulgar o património português de música erudita e experimental.

Disponível em Português e Inglês, o sítio do CIMP, que tem sete mil utilizadores registados e «centenas largas de visitas diárias», permite a consulta pesquisável em linha através de cinco de áreas principais: compositores, intérpretes, obras, materiais/documentos e recursos musicais, nacionais e internacionais.

Os números apresentados pelo CIMP dão conta da existência de informação disponível sobre 124 compositores portugueses (de 332 referenciados), a inventariação de 7.406 obras e a apresentação de 241 partituras completas em linha - o que faz do Miso Music Portugal, no dizer dos seus criadores, «o maior editor de partituras portuguesas dos séculos XX e XXI».

«Há editores com catálogos importantes, mas normalmente relativamente ao passado. Em relação ao século XX praticamente não existia nada. No fundo estamos a tentar colmatar uma lacuna enorme na área da edição e do património musical português do século XX, usando para isso as novas tecnologias», refere o músico português.

Na base temática do CIMP estão ainda listados 95 intérpretes e agrupamentos e recolhidos perto de seis mil materiais e documentos (textos, partituras, programas de rádio e televisão, registos áudio e vídeo, fotografias, etc.). Pode também aí encontrar-se a discografia completa de Portugal, com um catálogo de 1.935 CD, e os registos em vídeo de entrevistas a 52 compositores.

A base, acrescenta Azguime, «tem também uma parte de interesse prático para as pessoas que operam nesta área», ao incluir informação sobre recursos nacionais e internacionais respeitantes à actividade musical, «ou seja, financiamentos, bolsas, escolas, conservatórios, festivais, etc.»

Paula Castro Guimarães. Miso Music
Paula Castro Guimarães. Miso Music
Diferentemente de outras fontes e recursos, a base temática da Miso Music Portugal é regularmente actualizada. «Nem tudo é actualizado todos os dias», mas «cada obra nova que é composta e sai de um compositor português é imediatamente colocada na base de dados, o que significa que está imediatamente disponível», refere Miguel Azguime.

«O carregamento para a base de dados não tem fim, mas é uma coisa riquíssima, porque permite já hoje, e no futuro melhor o permitirá, ter uma ideia concreta e [fazer] uma história [da música] portuguesa destes séculos que não existia».

Os criadores do CIMP procuram actualmente resolver as questões de financiamento, que tem vindo nos últimos anos dos apoios às actividades performativas da Miso Music Portugal, de forma a garantir a continuação e alargamento da sua actividade - por eles considerada equivalente à prestação de um «serviço público» -, nomeadamente para fazer recuar no tempo a informação disponível na base temática.

«A questão é que a Miso Music Portugal tem tantas actividades nas áreas performativas - e são tão importantes -, desde os ensembles [Miso Ensemble e o Sond\'Art-electric Ensemble], ao festival [anual Música Viva], às residências de criação...», refere Paula Castro Guimarães. O Música Viva é «o maior festival português dedicado à criação contemporânea portuguesa, em que são apresentados 30-40 compositores diferentes por ano. É por isso um espaço vital de facto para a criação musical em Portugal», no dizer de Miguel Azguime, que enumera ainda uma lista infindável de actividades no campo musical desenvolvidas pelo Miso Music.

De qualquer forma, as incertezas que enfrentam quanto ao futuro desenvolvimento do CIMP «não põem em causa o funcionamento do sítio». Apenas «põe em causa a mais rápida ou menos rápida actualização da informação», garante Miguel Azguime.

O compositor descreve a inserção da base temática no CVC como «uma janela virtual sobre a base de dados do CIMP, ou seja, é uma forma de o IC - parceiro do CIMP desde 2006 - aceder a um manancial de informação extraordinário».

A diferença está em que no CVC, com uma vocação multidisciplinar, «as pesquisas estão simplificadas» e o acesso à informação só vai até certos níveis. «Mas a entrada no CIMP está à distância de um clique, para o utilizador. É só dizer: ‘agora vai entrar no CIMP, quer continuar ou não quer?\'», explica Azguime.

«No fundo a base temática da música do século XIX, XX e XXI no CVC é uma espécie de versão reduzida do que está disponível no CIMP, embora não haja limitações. As pessoas que continuarem para o CIMP têm acesso à informação toda», garante Miguel Azguime.