Cabo Verde: Moçambique interpretado por dois jovens autores e mostrado no Mindelo

Publicado em sexta-feira, 09 novembro 2012 08:29

Duas instalações fotográficas de jovens autores oriundos de Moçambique estão até 12 de novembro em exibição no polo do Centro Cultural Português/Camões IP do Mindelo, em Cabo Verde, no âmbito do programa Gulbenkian de Ajuda ao Desenvolvimento ‘Próximo Futuro’.

Enquanto Filipe Branquinho (n. 1977) trouxe a série de seis fotografias Ocupações, Camila de Sousa (n. 1985) apresenta 3x4, «o resultado de uma imersão em dois estabelecimentos prisionais femininos de Maputo».

A série de Filipe Branquinho é «um pequeno recorte de um projeto fotográfico», iniciado em 2011, com que o autor pretendeu «captar espírito» das cidades de Moçambique, «através da arquitetura, da paisagem e dos seus ocupantes».

«O foco deste trabalho é um determinado grupo social que representa uma maioria e que está presente em todo o tecido urbano: nos grandes centros, nos bairros da periferia, na zona costeira, nos condomínios privados, etc.», diz Branquinho. «É no conjunto dos retratos que as cidades são desvendadas, na luz que as envolve, na sua paleta de cores e na história das pessoas que ali vivem».

O trabalho sobre as prisões femininas de Maputo (a Cadeia Civil e o Centro de Reclusão Feminino de Ndlhavela) de Camila de Sousa - filha do cineasta moçambicano Camilo de Sousa e sobrinha neta da poetisa moçambicana Noémia de Sousa – resulta do convívio desta «antropóloga visual», «ao longo de um ano», «com mulheres de nacionalidades, idades e classes sociais diversas, mas cujas histórias e experiências estão interconectadas por episódios de violência física e social, de separação, expiação e reconciliação».

«Em Moçambique, o exercício e respeito dos direitos das mulheres, que se encontram em regime prisional, constituem um grande desafio: além das arbitrariedades cometidas pelas instâncias investigadoras, o desrespeito dos prazos de prisão preventiva, as péssimas condições de alojamento, alimentação e higiene, existe o imperante patriarcalismo que reforça o tratamento desigual atribuído à mulher pela justiça moçambicana», afirma-se numa nota de apresentação de exposição.

«Na série apresentada, as imagens tentam criar um campo político de negociação e recuperação do corpo feminino fraturado, que, apesar de marcado pela lógica da violência patriarcal, não deixa, contudo, de ser um corpo feminino, senhor da sua sensualidade e do seu próprio movimento».

3x4 foi parcialmente apresentado em 2011, em duas exposições coletivas em Maputo – Ocupações Temporárias e Masculinidade e Violência.

Filipe Branquinho trabalha atualmente como freelancer em fotografia e ilustração. No Brasil, o desenho e a ilustração surgem de forma sistemática e consciente, através do contacto com as disciplinas artísticas na UEL (Universidade Estadual de Londrina/Brasil) a par da formação em arquitetura. É também neste contexto que decide experimentar a fotografia como arte. Participou em diversas exposições coletivas e individuais no Brasil, em Moçambique e na África do Sul. Tem diversas obras em coleções particulares, no acervo do Museu de Arte Moderna de Londrina, Brasil, e do Camões IP de Maputo.

Camila de Sousa, graduada em Ciências Sociais com um enfoque em Antropologia Visual, tem vindo a aprofundar os seus conhecimentos nas áreas da fotografia e do audiovisual e participado em vários cursos de formação em Moçambique, Brasil e Senegal. Em 2010, apresentou a exposição documental e curta-metragem Mafalala Blues, no Centro Cultural Franco Moçambicano e no Centro de Estudos BrasilMoçambique, no âmbito do Festival de Cinema Documentário Dockanema. Ainda em 2010, deu início a 3x4, um projeto sobre representações do corpo feminino encarcerado.