Morreu o maestro José Atalaya

Publicado em terça-feira, 23 fevereiro 2021 15:21

José Atalaya, morreu no dia 19 de fevereiro de 2021 num hospital de Lisboa, de problemas cardíacos. O maestro e compositor tinha 93 anos. Grande pedagogo, fundou a Juventude Musical, para fazer concertos para jovens, explicando as obras e a organização de uma orquestra, bem como a apresentar programas na RTP sobre compositores. Foi diretor da Antena 2 e maestro titular da orquestra sinfónica da RDP, Porto.

José Atalaya, que nasceu em Lisboa, em 8 de dezembro de 1927, era aluno do Instituto Superior Técnico quando, aos 19 anos, impressionado com o compositor Joly Braga Santos, para o qual o pai lhe chamara a atenção, decidiu dedicar-se à escrita musical, e procurou Luís de Freitas Branco, que marcara a modernidade da música portuguesa, na primeira metade do século XX, e formara as gerações seguintes de compositores, como Fernando Lopes-Graça e Braça Santos.

Atalaya era já um ouvinte assíduo dos programas de Freitas Branco, no antigo canal Programa B e Lisboa 2, da Emissora Nacional, que viria a dar origem à atual Antena 2, da RDP/RTP. De 1947 até 1955, estudou com Freitas Branco, que tinha deixado o Conservatório Nacional, por razões políticas.

A primeira obra de Atalaya, como compositor, inspirou-se no livro "As Mãos e Frutos", de Eugénio de Andrade (1923-2005).

Com a morte de Luís Freitas Branco, em finais de novembro de 1955, decidiu afastar-se da composição, enveredou pela investigação, em musicologia, e passou a interessar-se pela direção de orquestra.

Retomou o interesse pela composição dez anos mais tarde, fascinado pelo trabalho do compositor francês Pierre Boulez (1925-2016) que entrevistara em Basileia, na Suíça.

José Atalaya ingressou, em 1951, como assistente musical, na antiga Emissora Nacional, onde colaborou com o compositor Pedro do Prado (1908-1990) e João da Câmara (1905-1978), e iniciou um percurso de divulgação que se estendeu à RTP e a diferentes palcos nacionais, através de programas como "Quinzenário Musical" e "Semanário Musical", que manteve durante mais de 15 anos e que, em 1971, em entrevista, considerou um dos seus trabalhos "mais apaixonantes".

Ao longo do seu percurso, entre outras personalidades, Atalaya trabalhou e conviveu com o compositor italiano Pietro Grossi (1917-2002), pioneiro da utilização do computador na música, que fundou em Florença o Estúdio de Fonologia Musical (S2FM) e a associação Vita Musicale Contemporânea.

Foi o primeiro diretor do Grupo Experimental de Ópera de Câmara, que fundou, com apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, antes do aparecimento da Companhia Portuguesa de Ópera do Teatro da Trindade, em 1966.

Sob o patrocínio da Secretaria de Estado da Cultura iniciou, em 1994, a antologia discográfica "Cinco Séculos de Música Portuguesa", tendo publicado cerca de 30 títulos.

Em 1998, com o apoio da Câmara Municipal de Fafe, fundou uma Academia de Música naquela cidade do distrito de Braga, à qual foi dado o seu nome.

Lusa e RTP