Paulina Chiziane vence Prémio Camões

Publicado em quinta-feira, 21 outubro 2021 12:46

A escritora moçambicana Paulina Chiziane é a vencedora do Prémio Camões 2021, numa escolha feita por unanimidade, foi anunciado no dia 20 de outubro de 2021.

Segundo uma nota informativa divulgada pelo Ministério da Cultura, o júri decidiu por unanimidade atribuir o prémio à escritora moçambicana Paulina Chiziane, destacando a sua vasta produção e receção crítica, bem como o reconhecimento académico e institucional da sua obra. O júri referiu também a importância que dedica nos seus livros aos problemas da mulher moçambicana e africana. O júri sublinhou o seu trabalho recente de aproximação aos jovens, nomeadamente na construção de pontes entre a literatura e outras artes.

Paulina Chiziane foi a primeira mulher a publicar um romance em Moçambique, em 1990, "Balada de Amor ao Vento".  Da sua obra fazem ainda parte "Ventos do Apocalipse", "O Alegre Canto da Perdiz" (2008), "As Andorinhas" (2009), "Na mão de Deus" e "Por Quem Vibram os Tambores do Além" (2013), "Ngoma Yethu: O Curandeiro e o Novo Testamento" (2015), "O Canto dos Escravos" (2017) e "O Curandeiro e o Novo Testamento" (2018). Este ano lançou em Maputo, em conjunto com Dionísio Bahule, o livro "A voz do Cárcere", depois de ambos entrarem nas prisões e ouvirem os reclusos - ela a escutar as mulheres, ele, os homens.

Alguns dos seus livros foram publicados em Portugal e no Brasil, e estão traduzidos em inglês, alemão, italiano, espanhol, francês, sérvio e croata.

Paulina Chiziane nasceu em Manjacaze, província de Gaza, no sul de Moçambique, em 1955. Cresceu nos subúrbios de Maputo e durante a juventude fez parte da Frente de Libertação Nacional (Frelimo), mas a política não a convenceu, sobretudo no que toca à emancipação da mulher, e não tardou até se dedicar por inteiro à escrita.

Falante das línguas chope e ronga, aprendeu português na escola de uma missão católica e começou a estudar linguística na Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo, sem concluir o curso.

Em declarações à Lusa, a escritora de 66 anos, confessou-se confusa com a notícia do prémio, que considerou "uma surpresa muito boa para mim, para o meu povo, para a minha gente, que em África escreve o português, aprendido de Portugal". 

Sublinhou que o Prémio Camões 2021 serve para valorizar o papel das mulheres numa altura em que o seu trabalho ainda é subvalorizado, tendo afirmado que "afinal a mulher tem uma alma grande e tem uma grande mensagem para dar ao mundo. Este prémio serve para despertar as mulheres e fazê-las sentir o poder que têm por dentro".

Veja também a reportagem da RTP com declarações de Paulina Chiziane aqui

Com Lusa

 

Foto: António Silva / LUSA