Bélgica: O ‘Canal’ de Bruxelas em exposição de André Cepeda e Eduardo Matos

Publicado em segunda-feira, 30 janeiro 2012 08:28

A exposição Canal-Kanaal, o produto de uma residência iniciada em Abril de 2011 dos criadores André Cepeda e Eduardo Matos na Bélgica, é inaugurada a 31 de janeiro no Espace Photographique Contretype, em Bruxelas.

O projeto Canal-Kanaal foi organizado a convite do Programa de residências artísticas em Bruxelas do Espace Photographique Contretype, em colaboração com a Embaixada de Portugal na Bélgica e com o apoio do Instituto Camões e do BCP.

A apresentação, que contará com a presença dos artistas plásticos português e brasileiro (a viver e trabalhar na Bélgica), respetivamente, será feita pelo crítico e curador português Miguel von Hafe Pérez, atual diretor do Centro Gallego de Arte Contemporaneo, em Santiago de Compostela.

Seguir-se-á uma performance sonora por Jonathan Saldanha, André Cepeda e Eduardo Matos.

O canal que dá título ao projeto é o de Bruxelas, que está em vias de ser objeto de uma operação de despoluição dos seus terrenos outrora densamente ocupados, desde os primórdios da revolução industrial e mesmo antes.

Eduardo Matos, num texto de apresentação da exposição, diz que o canal confrontou os dois artistas plásticos com uma realidade «rica e complexa em termos de abordagens possíveis» e que levou a «hesitações» e «recuos», mas também a «decisões».

Num primeiro momento André Cepeda, fotógrafo e finalista em 2009 do Prémio BES-Photo, e Eduardo Matos, artista plástico multidisciplinar, percorreram o canal e foram identificando locais e histórias, recordando a viagem que os dois fizeram em conjunto ao sul dos Estados Unidos, ao longo do rio Mississipi.

O canal, «uma fronteira invisível que atravessa e divide a cidade de Bruxelas», é, no dizer de Eduardo Matos, «um extraordinário campo de estudo e experimentação, onde as atmosferas e as paisagens se metamorfoseiam criando estratos de significação cuja matriz é indecifrável».

Focando-se na «paisagem moderna, fria e pragmática» resultante dos aterros, construção e intervenção urbanística, os dois criadores quiseram «sentir intensamente a passagem do tempo no seio de uma estrutura desta dimensão», sob a forma das «ocorrências que nos afastam cada vez mais da natureza».

«Com o tempo as imagens surgiram», diz Eduardo Matos, que no entanto alerta implicitamente para que a exposição não é, de forma alguma, uma coleção de bilhetes postais, quando afirma que «o que certas imagens não dizem sobre si próprias revela-se talvez mais decisivo do que poderíamos supor ver à superfície».

O projeto, diz Eduardo Matos «omite uma infinidade de coisas, mas «esse olhar desviado pode determinar, como na vida, uma recentragem sobre o que convém tornar mais intenso». «Para esta exposição, imaginámos portanto um lugar onde as imagens e objetos, o som, o vídeo e a performance produzem um tempo narrativo capaz de desenvolver essa expectativa».

O objetivo das residências em Bruxelas, segundo Espace Photographique Contretype é «permitir ao artista ter um tempo de reflexão sobre seu trabalho e questionar o estádio de desenvolvimento alcançado pela sua pesquisa artística», mas «em nenhum caso, essa investigação deve responder a uma encomenda», pelo que «o projeto desenvolvido no quadro da residência visa inscrever-se na continuidade do corpus e das preocupações do artista».

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