Portugal: PROCULTURA | Recriação contemporânea do Tchiloli no Orfeão de Leiria

Publicado em quinta-feira, 05 junho 2025 09:53

O espetáculo Tchiloli, uma abordagem multidisciplinar ao teatro popular de São Tomé, num cruzamento entre dança contemporânea, música, multimédia e teatro, foi o produto final de uma residência artística dos alunos dos departamentos de Música e Dança do Orfeão de Leiria, que decorreu ao longo de três dias, na Black Box, uma plataforma de criação artística de Leiria, e que teve a sua apresentação ao público no dia 31 de maio de 2025.

Esta recriação integra o projeto Resistência e Afirmação Cultural, apoiado pelo PROCULTURA - Promoção do Emprego nas Atividades Geradoras de Rendimento no Setor Cultural nos PALOP e Timor Leste, que visa realizar investigações e recriações contemporâneas das manifestações artísticas que ocorreram durante o processo da libertação colonial, tanto nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), como em Timor-Leste e em Portugal. Na prática, o projeto pretende usar um modelo cruzado de investigações e recriações, onde as manifestações artísticas identificadas num país são, posteriormente, recriadas por artistas de outro país envolvido. Tchiloli, pelo Orfeão de Leiria, resulta, então, de uma simbiose entre composições originais e materiais artísticos já existentes, nomeadamente poemas são-tomenses e registos documentais de tchiloli, teatro popular e património cultural são-tomense.

O tchiloli é uma forma de teatro, música e dança, com origem em Portugal, que terá sido introduzido em São Tomé, no século XVI. A história conduz o público ao dilema moral do Imperador Carlos Magno, dividido entre a justiça que o povo clama e o amor pelo seu filho, acusado de matar o filho do Marquês de Mântua. Constitui a manifestação cultural mais conhecida e documentada do país, sendo considerada por muitos um símbolo da afirmação identitária e da resistência do povo santomense, que se apropriou e transformou o tchiloli, usando-o para, através da arte, fazer uma crítica à opressão colonial.

A residência artística envolveu 40 elementos do Conservatório de Artes de Leiria, num trabalho articulado entre os departamentos de Música e de Dança e de uma Equipa Multimédia. A apresentação ao público foi filmada e documentada, para que, mais tarde, integre a plataforma digital CASA, uma biblioteca virtual das artes performativas dos sete países envolvidos no projeto Resistência e Afirmação Cultural - Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Principe e Timor Leste. Ainda este ano, dois elementos do Orfeão de Leiria irão juntar-se a uma equipa internacional para outro momento de residência artística, a realizar-se, desta vez, em Maputo, Moçambique, com vista ao desenvolvimento de mais uma recriação original.

O PROCULTURA é um projeto financiado pela União Europeia, que é gerido e cofinanciado pelo Camões - Instituto da Cooperação e da Língua, I.P. e conta também com financiamento da Fundação Calouste Gulbenkian. Dispõe de um orçamento de 19 milhões de euros e tem como objetivo contribuir para a criação de emprego em atividades geradoras de rendimento na economia cultural e criativa nos PALOP e em Timor-Leste.

Fotos: © Sérgio Claro

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